quinta-feira, 12 de março de 2015

Trilhas Sonoras, objetos, sentimentos

 

09ujp

 

No primeiro passo até que tem um trauma. É difícil sair caminhando como se não tivesse existido alguma coisa ali mais forte que sustentava seus pés, e agora simplesmente não está. Respirar fica difícil e apertado. Olhar o mundo causa medo. A vontade que se sente é de andar pelas ruas sem a atenção necessária, como se a alma não estivesse no mesmo local em que o corpo está.
Os primeiros dias causam tempestades nos olhos. Dizer adeus a quem se ama é dizer adeus a um bocado de coisas que já fazem parte da pele. Um amor nunca vem sozinho, ele traz uma trilha sonora que a gente precisa esquecer para que o corpo não trema a cada vez que aquelas músicas tocarem. Ele traz outras pessoas, objetos e sentimentos que ficam embaralhando-se em nossa cabeça como cartas de um baralho infinito e perigoso.
Sonhar é impossível. Amar novamente esta fora de cogitação.
Voltar a acreditar depois de ter que separar o que parecia inseparável – não faz o menor sentido.
Quando o amor em nós se despede a vida perde toda a sua beleza, graça e cor.
Os passos seguintes são tão dolorosos quanto o primeiro, mas com o tempo e a capacidade do coração de se curar, eles ficam cada vez mais leves. As coisas boas viram doces lembranças que, com força e coragem a gente guarda numa caixinha e esconde em cima do armário para não sentir a necessidade de remexer nelas. Minha avó dizia que mexer no passado é ser injusto com a força que o presente faz para nos manter em pé. Ela sempre teve razão.
Os dias seguem com a necessidade de que a gente esqueça tudo o que nos remete à pessoa, pelo menos até que as feridas estejam cicatrizadas e seja possível lembrar sem doer. E esquecer é um esforço pessoal e intransferível, esforço que dói tanto quanto levar uma surra daquelas que nos deixa com a cara colada no chão por longas horas.
Mas a gente esquece! Tão certo quanto o Sol aparecer todas as manhãs e o mundo girar.
Esquece a pessoa, esquece o cheiro que fazia bem e o olhar que fazia mal. Esquece as palavras que antecipavam o beijo e o beijo que antecipou o adeus. A vida e a mão preciosa do tempo nos dão o prazer de esquecer e se despedaçar, até ficar com o corpo e a mente vazios. E depois de chorar e morrer infinitas vezes por dia, você percebe que a capacidade de amar novamente ainda está ali, e nota que a velocidade das horas varreu todo o azar e os tropeços da caminhada.
E percebe algo ainda melhor e mais bonito: que o amor tem a sorte de não ser esquecido, e ao final de tudo ele está sempre enfeitado com outras possibilidades de ser feliz.
Camila Heloíse...

 

 

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