Em um dia qualquer
me perguntaram o que eu iria almoçar. “Sorvete”, respondi, porque estava calor,
sem fome e queria almoçar sorvete. Além de receber um olhar mais gelado que o
sorvete que eu pretendia comer , ainda me falaram que eu não poderia fazer isso
porque não era mais criança. Dei de ombros e fui almoçar meu sorvete. Tenho
vinte e cinco anos e almoço sorvete de vez em quando. Também jogo video game
até a madrugada, canto músicas bregas usando o controle remoto como microfone,
assisto bob esponja, dou risada até a barriga doer, deito na grama e imagino
desenho nas nuvens, choro sempre que me emociono, minha pasta de dente favorita
é Tandy de morango e peço para a minha mãe me cobrir antes de dormir, quando
posso dormir na casa dela,. Tenho vinte e cinco anos e moro sozinha desde os
dezoito, tenho um emprego fixo, pago minhas contas, dirijo a moto que mantenho
com o suor do meu emprego, compro minhas próprias roupas, vou ao banco, leio
jornais, converso sobre política, futebol e sexo.
Sou então uma mulher de vinte e cinco anos. Mas gosto de ser uma criança de vinte e cinco também, por que não? O fato de eu querer almoçar sorvete quando me da na telha me infantiliza? Existe algum tipo de manual que tenho que seguir para ser adulta e que me impede de comer a sobremesa primeiro se eu quiser?
Idade é estado de espírito – conheço crianças de trinta, adultos de vinte. Idade é também a soma das nossas experiências, e não somente o nosso cardápio do almoço ou os tipos de conversa que a gente tem. Nesse mundo caótico, que temos que ser sérios o tempo todo, tomar decisões difíceis, abandonar e ser abandonados, ferir e ser feridos, que a gente possa também deixar um espaço aberto para a criança que a gente carrega dentro de nós brincar sem sentir nenhuma vergonha. Escolher assistir o desenho ao invés daquele filme cult não te deixa menos adulto. Passar a folga assistindo sessão da tarde não vai te deixar menos sério. Liberar a sua criança interior não é o mesmo que se tornar infantil – existe uma enorme diferença entre tornar-se adulto e amadurecer – e não é um número que te deixa mais maduro, são as suas atitudes.
Tenho conhecimento que tenho muito, muito o que amadurecer ainda. Você também, afinal a vida é uma eterna aprendizagem, aquele que se acha dono de si, que pensa ter alcançado a plenitude de sua vida adulta é o que mais tem a aprender – e tal qual uma criança, pode começar a aprender a não julgar os outros por suas escolhas.
Almocei meu sorvete feliz da vida, e ainda mais contente porque pedi ajuda para tomar uma decisão muito importante naquele dia: Na minha dúvida entre morango e chocolate, o menininho do meu lado falou para eu experimentar o de chicletes, que tinha uma cor engraçada. Segui seu conselho, adicionei um sabor novo para meu repertório de sorvetes e tive uma tarde muito mais alegre para resolver meus problemas de adulta. Já aquele que me repreendeu pela minha escolha indevida de almoço passou a tarde se lamuriando de seu almoço low carb, tal qual, veja só, um bebê chorão.
Sou então uma mulher de vinte e cinco anos. Mas gosto de ser uma criança de vinte e cinco também, por que não? O fato de eu querer almoçar sorvete quando me da na telha me infantiliza? Existe algum tipo de manual que tenho que seguir para ser adulta e que me impede de comer a sobremesa primeiro se eu quiser?
Idade é estado de espírito – conheço crianças de trinta, adultos de vinte. Idade é também a soma das nossas experiências, e não somente o nosso cardápio do almoço ou os tipos de conversa que a gente tem. Nesse mundo caótico, que temos que ser sérios o tempo todo, tomar decisões difíceis, abandonar e ser abandonados, ferir e ser feridos, que a gente possa também deixar um espaço aberto para a criança que a gente carrega dentro de nós brincar sem sentir nenhuma vergonha. Escolher assistir o desenho ao invés daquele filme cult não te deixa menos adulto. Passar a folga assistindo sessão da tarde não vai te deixar menos sério. Liberar a sua criança interior não é o mesmo que se tornar infantil – existe uma enorme diferença entre tornar-se adulto e amadurecer – e não é um número que te deixa mais maduro, são as suas atitudes.
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CRISTINA SOUZA
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